
Ano de Lançamento: 1963
Direção: Nelson Pereira dos Santos
País: Brasil
Elenco
Átila Iório (Fabiano)
Maria Ribeiro (Sinhá Vitória)
Orlando Macedo (soldado amarelo)
Jofre Soares (fazendeiro)
Gilvan Lima (menino mais velho)
Genivaldo Lima (menino mais novo)
Família de retirantes (Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia) enfrenta a dura vida da caatinga e as injustiças sociais. Baseado na obra homônima de Graciliano Ramos.
A mesma linguagem seca, econômica, de Graciliano: assim é o filme de Nelson Pereira dos Santos. O Nordeste brasileiro, seco, em preto e branco.
Nelson conseguiu articular com criatividade as peças do romance, sem anular o clima de opressão que, no livro, é expresso pela narrativa enxuta, em terceira pessoa, combinada com o discurso indireto, que nos aproxima do drama das personagens: a natureza adversa, o soldado amarelo, o fazendeiro explorador, o sonho de Sinhá Vitória com uma “cama de gente”, a prisão de Fabiano, a surra na cadeia, “para não se meter a besta diante das autoridades”, a morte da cachorra Baleia (que também nas telas não perdeu sua humanidade).
A ausência de música também contribui para a linguagem seca do filme. O único som que ouvimos – que abre e fecha o filme e que surge e eleva-se nos momentos de tensão, como na morte de Baleia – é o silvo perturbador da roda de um carro de boi.
Nelson incluiu alguns ajustes na narrativa que seriam aprovados por Graciliano, penso eu, tais como: o grupo de cangaceiros e o convite feito a Fabiano para se integrar ao bando; a filha do fazendeiro recebendo aulas de violino quando Fabiano vai acertar as contas com o patrão.
Por outro lado, talvez o cineasta não tenha sido muito feliz em estabelecer uma data para a história que, no filme, se passa entre 1940 e 1942. O livro foi publicado em 1938, mas a narrativa não é datada, o que lhe confere universalidade: a tragédia das vidas secas de Fabiano, Sinhá Vitória, os dois meninos e a cachorra Baleia é a tragédia da opressão em qualquer época e lugar, em que alguns seres humanos vivam subjugados a outros, mais poderosos, e impotentes diante da natureza adversa.
Para Nelson Pereira dos Santos, a escolha da data, “os anos que lembram os momentos decisivos da Segunda Guerra Mundial”, tinha como razão “realçar a singularidade da vida no sertão, longínquo espaço do mesmo planeta”.
Cenas marcantes:
Logo nos primeiros minutos do filme, Sinhá Vitória, dura, bruta, impassível, agarra o papagaio e o mata, para a alimentação da família.
Quando, na casa do fazendeiro, Fabiano vai buscar a caderneta para o acerto de contas com o patrão, observa a filha do fazendeiro tendo aulas de violino: um contraste entre a dura vida que leva e uma outra coisa não-identificável (deleite onírico, mas de um outro sonhador, não dele) não associada à luta pela sobrevivência.
A sequência da morte de Baleia. Nelson Pereira dos Santos declarou que o filme podia falhar em qualquer ponto, “menos na seqüência da morte da Baleia. (...) Toda a agonia da Baleia era a minha preocupação mais importante durante a realização do filme”. Conseguiu: empatia idêntica a que nos entregamos no livro com o sofrimento de Baleia, Sinhá Vitória e os dois meninos, está presente ao assistirmos o filme. Baleia distanciando-se de Fabiano, como a saber que distanciava-se da morte, o tiro, o choro dos meninos na semi-escuridão do casebre, Baleia arrastando-se após o tiro, deitando e fechando os olhos aos poucos, enquanto nós, espectadores, compartilhamos com ela do seu paraíso de preás, é uma das seqüências mais belas da sétima arte.