domingo, 21 de setembro de 2008

Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia (1974)



Título Original: Bring me the head of Alfredo Garcia
Tempo de Duração:
112 minutos
Ano de Lançamento: 1
974
Direção: Sam Pekinpah

País: Estados Unidos / México


Elenco

Warren Oates (Bennie)

Isela Vega (Elita)
Robert Webber (
Sappensly)
Gig Young (Quill)
Emilio Fernández (el jefe)

Kris Kristofferson (Biker)

Janine Maldonado (Theresa)


Sinopse

Latifundiário mexicano, “el jefe”, contrata pistoleiros para trazer a cabeça de Alfredo Garcia, o homem que engravidou sua filha. Na caça a Alfredo, os homens del jefe encontram-se com Bennie, pianista que toca em um bar que recebe turistas em visita ao México. Bennie descobre que sua amante, Elita, foi uma das últimas pessoas a ver Alfredo Garcia, com quem também mantinha um relacionamento amoroso. Elita revela que Garcia morrera havia poucos dias, em um acidente de carro, e está sepultado em sua cidade natal. Bennie e Elita vão à cidade natal de Garcia. O problema é que Bennie é seguido por alguns caçadores de recompensa, que querem “passar a perna” no pianista.

Para mim, um Sam Peckinpah de corpo e alma, inteiro, sem mutilações, o único filme que Sam considerava completamente seu. É o filme em que Sam teve mais liberdade de realização, pois geralmente os grandes estúdios mutilavam suas obras, com considerações morais (comerciais) de vários tipos.

O roteiro é simples. Uma história não precisa de pirotecnias para ser envolvente. Pelo contrário: como um road movie, a fotografia, belíssima (com exceção das cenas noturnas e ao entardecer, a direção de fotografia de Alex Phillips Jr. é muito boa), as estradas áridas do México, envolvem naturalmente o espectador com o destino de Bennie, Elita e Al Garcia.

A pobreza dos mexicanos e de suas habitações contrasta com a opulência da fortaleza del jefe, cercada de capangas, de retratos dos patriarcas familiares, de membros da igreja católica (padres e freiras) e pistoleiros profissionais, travestidos de executivos, todos submissos às ordens do tirano.

São muito interessantes os diálogos de Bennie com a cabeça de Al Garcia (à filha de Sam, Sharon Peckinpah, é creditada a direção dos diálogos). O relacionamento de Bennie e Elita transmite-nos um lirismo que contrasta com o banho de sangue que logo irá jorrar: a prostituta Elita e o pianista fracassado Bennie estão na sarjeta, mas sonham com o casamento. Isso é possível, num mundo onde os que têm muito dinheiro são os que decidem sobre quem morre e quem fica vivo? (Não custa lembrar que o lirismo peckinpahniano pode manifestar-se com a ternura de um postlúdio, em que o amante despeja tequillla na região genital para matar os chatos...)

Bennie segue princípios morais (como a maioria dos personagens de Sam, observe bem). Para ele, um cara endinheirado e seus pistoleiros não podem simplesmente sair matando as pessoas, num profundo desprezo às relações estabelecidas pelos anônimos assassinados, aos pobres e à vida em geral. Por isso, Bennie mata o todo-poderoso, mesmo sabendo que isso pode representar também o fim dele próprio, Bennie.

Podemos ver nos atos de Bennie uma metáfora; imaginemos sua atitude como uma resposta a todos os poderosos do mundo, que decidem o destino dos povos, geralmente dos povos mais pobres do planeta, como fazem os Estados Unidos, matando e destruindo, usando falsas considerações de que está combatendo o terrorismo e outras mentiras mais. Claro que Sam não imaginou o filme sob esse prisma político (ainda bem, caso contrário, poderia não ser a obra-prima que é). Por esse ângulo, Bennie (bem como Pike em Wild Bunch) é um dos personagens mais éticos do cinema: age com a convicção de que tem poucas chances de viver, mas sabe que está acabando com mais um dos tantos “gerentes” que administram os genocídios que ensangüentam a humanidade.

2 comentários:

Marcelo Vítor disse...

Até que fim hoje dei uma olhada no seu mais novo blog (eu acho... rsrs) e quero aproveitar pra parabenizá-lo, Gilcênio. Ultimamente tenho me interessado de verdade pra conhecer esses filmes que não são bem da minha época, mas que sei terem marcado a história do cinema. O blog veio a calhar para aquelas pessoas que estão na mesma situação que eu, ávidas de mais cultura cinematográfica...rsrs.
As sinopses estão excelentes. Agora queria também aproveitar pra deixar 02 sugestões:

1- Seria interessante indicar também o gênero dos filmes que fossem sendo comentados. Assim, quem nunca ouviu falar a respeito deles ficaria melhor situado.

2- Sei que não é o propósito do blog, mas também seria interessante colocar links através dos quais pudéssemos baixar gratuitamente os respectivos filmes, nem que fossem em seu idioma original.

Espero ter contribuído.

Aguardarei novas postagens.

Abraços.

Gilcênio Vieira Souza disse...

Valeu Marcelo pelas dicas. Nas próximas postagens, vou adotá-las.

Gilcênio.